Passamos recentemente pela principal data de recebimento das contas: o famoso 30/04. Mas como estão os recebimentos? Quais são as regiões mais problemáticas? Quais as estratégias para minimização de perdas no agro?
As últimas três safras reuniram uma conjuntura que coloca a indústria e a distribuição de insumos em sobreaviso. Em 2021 e 2022 vimos um cenário bastante favorável para a cadeia de commodities agrícolas e insumos, trazendo uma onda de otimismo no setor. Em 2022 ainda vimos um rali para compra de insumos, notadamente de fertilizante e defensivos, contratação de pessoas, a altos custos. Os resultados foram bons! Toda cadeia do agro foi impulsionada por um processo de inflação, ao mesmo tempo com mercado comprador. Muitos distribuidores cresceram 50% ou mais em faturamento.
Em 2023 veio a ressaca para boa parte do setor. O produtor deve uma liquidez diminuída, as empresas de distribuição entraram com as despesas comerciais aumentadas e estoques caros e terminaram o ano com lucro bruto inferior e EBITDA mais ainda, pressionado por elevadas despesas. Pouca gente “tirou o pé”, reestruturando equipes para o novo momento. Os endividamentos aumentaram e a relação dívida líquida/ EBTIDA foi para a lua. Entra-se 2024 com os balanços piores, para dizer o mínimo. Este não é um quadro generalizado, mas é típico.
Entramos em 2024 com bastante apreensão, pois o quadro financeiro já vem agravado, e vimos uma safra de soja cara e com desafios para a produtividade, notadamente o atraso das chuvas e o calor. Ainda assim, tivemos normalidade na colheita na maioria das regiões e o recebimento está transcorrendo normalmente. As exceções que inspiram atenção são norte e sul de Goiás, onde observamos produtividades menores, mesmo para os produtores que não economizaram. Calor ao longo do ciclo e chuva na colheita minaram o bolso do produtor. No Mato Grosso, tivemos seca expressiva em Cláudia e Feliz Natal. No Oeste de São Paulo, produtores que entraram com soja na entressafra da cana, em sua maioria arrendatários, não tiveram bom desempenho e vão deixar contas para trás. No Rio Grande do Sul, ainda tinha soja para colher, antes das chuvas, deixando ainda uma incerteza. Nestas regiões estamos vendo os maiores atrasos e até produtores sinalizando RJ, que se confirmadas vão aparecer no início do segundo semestre.
Neste cenário, os produtores e distribuidores preocupados com o seu limite de crédito, deverão tomar algumas providências
– para o produtor: travar o custo do insumo, aproveitando a relação de troca boa em termos históricos. Minimizar investimentos em bens de capital e compra alavancada de terra, enquanto os juros estiverem alto, Manter o foco na produtividade e otimização operacional e menos na comercialização e compra de máquina
– Para os distribuidores, revisão dos planos de crescimento para um cenário mais cadenciado, o ajuste das despesas operacionais, visando eficiência; reavaliação dos planos de abertura de loja e contratação de mais pessoas. Também cautela na distribuição de dividendos, incorporando sempre o cenário de recebimento na equação; alongamento do perfil da dívida, visando garantir os limites, mesmo em um cenário de mercado piorado no segundo semestre e por fim o aprimoramento das práticas de análise e concessão de crédito. Vemos que há muito espaço para melhoria deste último.
A DataCrédito tem pretensões de contribuir para um cenário de risco reduzido em toda a cadeia. Ela tem sido muito ativa junto a seus clientes para desenho das estratégias para assumir risco e recuperar os créditos de forma administrativa. Aperfeiçoamos constantemente nossas metodologias de avaliação de risco para entregar cada vez mais precisão em nossas análises e aumentar as vantagens competitivas para nossos clientes.
Autor: Marcelo Soares, Sócio Gerente DataCrédito